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As margaridas
 

Aqui sorriem doces margaridas.

No teu jardim também fulguram flores.

São bem diversas, exalando olores:

rosas alegres, belas, coloridas.

 

Na primavera, a quadra dos amores,

toró de sons e luz esplende vidas.

As vidas dos humanos, mais queridas,

no verde da paisagem, ó primores!

 

Travesso beija-flor fareja as rosas.

Hortênsias e papoulas, tão mimosas,

realçam-se — cantantes — na aquarela.

 

Encastelada, presa à primavera,

minha alma livre bem a sós quisera

contigo olhar as flores da janela.


Livro: "Sonetos do Entardecer - pág. 27

O sempre soneto
 

Um soneto prospera como a flora,

vai às pedras que gritam num deserto;

longe estando, desponta, aí por perto,

e a caneta, a dançar, papéis devora.

 

Inconsútil, por si, bastante esperto,

em quatorze alinhavos ele mora.

Vendo versos caolhos, sempre chora,

porque não acha nada disso certo.

 

Um soneto resiste às intempéries

e, longevo, costuma vir em séries,

como um verde sonoro da floresta.

 

Dos sonetos o sempre, a resistência:

onde deles a mão plantar essência,

já é certo também eu pôr a destra.


Livro: "Cem 100% Sonetos" - pág. 19

O Amor

Pode ser que te pegue de emboscada,

num olhar fulminante, de momento,

ou, ainda, também, se, desatento,

estiveres no val de uma sacada.

 

Ele nunca se nutre de argumento

— Só se enreda na data não marcada;

surge à tona, qual fosse aquela fada

que, de vez, te assaltou o pensamento.

Chega cedo, porém, às vezes, tarde;

temporão, mais intenso e tão no arde

que se fixa à maneira sanguessuga.

Uma vez arranchado no sujeito

sendo certo, profundo e muito a jeito,

um amor, nem querendo, bate em fuga.

Livro: "Cem Sonetos Insubmissos - pág. 63

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