Alegria
Bons dias, querida alegria!
Hoje tu me bates à porta,
e quão a tua companhia
tanto bem me faz e conforta.
Tempos vivi só d’alma fria,
mas para não dizer que morta,
pois, sem tua filantropia,
a minha vida andava torta.
A tua vinda benfazeja
a mim total me deixa leve,
dono de cartas sobre a mesa.
De novo, não me faças greve!
Sempre que tu me ris, alteza,
a gratidão flui onde deve.
Livro: "Novas Poemações - pág. 23
O sempre soneto
Um soneto prospera como a flora,
vai às pedras que gritam num deserto;
longe estando, desponta, aí por perto,
e a caneta, a dançar, papéis devora.
Inconsútil, por si, bastante esperto,
em quatorze alinhavos ele mora.
Vendo versos caolhos, sempre chora,
porque não acha nada disso certo.
Um soneto resiste às intempéries
e, longevo, costuma vir em séries,
como um verde sonoro da floresta.
Dos sonetos o sempre, a resistência:
onde deles a mão plantar essência,
já é certo também eu pôr a destra.